Desabafos Humanitários - Sois todos uns feministas

14:54


As vitórias do passado não nos podem fazer perder a perspetiva do futuro.









“Eu sou a favor da igualdade de género, mas atenção que não sou feminista!”.

A quantidade de vezes que ouvimos esta frase é estranhamente grande. Mais estranho ainda é o facto de esta ser proferida não só pela boca de homens, mas também de mulheres. No entanto, tendo em conta que o feminismo é precisamente o movimento que luta pela igualdade de género, esta frase apresenta-se inequivocamente contraditória. Seria como afirmar “eu só como produtos de origem vegetal, mas atenção que não sou vegetariano!” ou “eu não acredito na igualdade racial, mas atenção que não sou racista!”.

Aparentemente isto acontece porque o movimento feminista se tornou uma espécie de tabu. Por um lado, corre o estigma de que o feminismo foi longe de mais, é redundante, e que, portanto, devemos fazer com que a palavra caia em desuso. Corre, por outro, o de que os temas abordados pelo mesmo não são socialmente relevantes. Se consideramos que a luta pela igualdade está a ir longe de mais, ou não é socialmente relevante, então não sei o que será.

A própria desvalorização do tema é já por si a vitória da desigualdade – como é que vamos lutar pela igualdade, quando a desigualdade é tida como a norma? É inegável que os obstáculos com que o movimento feminista se depara hoje em dia são menos óbvios do que os de antigamente: mas isso não significa que sejam menos relevantes! As vitórias do passado não nos podem fazer perder a perspetiva do futuro, e por vivermos numa parte do globo em que a igualdade de géneros está estipulada, não quer dizer que esta seja cumprida em todas as suas vertentes.

A recusa de identificação com o movimento feminista é um retrocesso em todas as suas conquistas. Feminismo não é supremacia feminina. Feminismo não é perspetivar a mulher como “coitadinha”; Feminismo é igualdade e justiça – é vê-la como digna de respeito nos termos que ela mesma quiser. Feminismo é não cair na normalização da objetificação da mulher e reconhecer que cat-calling não é, de todo, um elogio.
O movimento feminista não é, nem pode ser, tabu. A mulher não deve ser respeitada por ser namorada, irmã ou filha de alguém: mas por ser mulher; lutar por direitos iguais nunca é “de mais”. Se veem a mulher como igual ao homem – e eu acredito que vejam - admitam de uma vez por todas: sois todos uma cambada de feministas!

vêmBeatriz Ribeiro

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